Sandro Mesquita

Dia do Trabalho II

Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Dando continuidade ao mês de maio e àquilo que nos propomos a compartilhar com os leitores sobre nosso ponto de vista em relação ao trabalho e suas mudanças, tenho que trazer mais um escrito milenar para ilustrar o significado do trabalho e dar continuidade ao texto.

A Bíblia diz que o homem terá que trabalhar duramente a sua vida inteira a fim de que a terra produza alimentos suficientes pra ele. Aqui, o fato do homem ter desobedecido lhe gera uma consequência que está associada ao seu esforço para a sua manutenção e sobrevivência.

A ideia é fazer essa relação do trabalho com a maior parte da população do País. A separação ou diferença entre o acontecimento que transformou o dia 1° de maio no Dia do Trabalhador e o dia 13 de maio no dia que simboliza o fim do escravagismo está longe de ser a distância geográfica territorial, ou serem dois anos do século 19. Estamos falando de aspectos correlacionados dentro de um mesmo objeto, aqui no caso o trabalho.

E temos o trabalho formal desenvolvido em parte da Europa industrializada, que não compactuava ou já havia superado o processo de escravidão e o trabalho escravo super utilizado nas Américas, sobretudo na Latina e mais acentuada no Brasil. Toda aquela revolução industrial acontecia debruçada em uma outra (r)evolução, a mental, no sentido de desenvolvimento da sociedade dentro de uma lógica capitalista e do ser humano no desenvolvimento intelectual e no campo do conhecimento.

Quando trazemos a reflexão para a sociedade brasileira nesse mesmo período, não vemos desenvolvimento nem industrial e nem humano. O País ainda demorou para assimilar, importar e aplicar tudo que estava acontecendo mundo afora e quando o fez, mesmo que por pressão externa de cunho econômico, não integrou o negro na sociedade de classe trabalhadora formal que se tornaria o Brasil.

O tempo foi passando, as formas de trabalho também, os mecanismos que movimentaram a economia foram se sofisticando, mesmo que ainda necessitassem da mão de obra e da força, mas não foi a população que desenvolveu o País durante quase 400 anos que foi alocada aos novos postos de trabalho e ao novo formato econômico. Os avanços industriais e tecnológicos vão acontecendo, o debate mundial sobre as formas de trabalho também, as classes trabalhadoras vão se organizando e cada vez mais buscando seus direitos. E mesmo com todo o avanço, ainda não vemos algumas coisas acontecerem, alguns grupos sociais avançarem.

Lutamos por conquistas coletivas da classe trabalhadora em geral e com o passar dos anos vemos esses direitos serem revogados, irem pelo ralo, em um discurso e manobra da classe patronal e dos agentes políticos que dificilmente se colocam e lutam ferrenhamente pelos trabalhadores.

E com todas as perdas de garantias já conquistadas, com o avanço tecnológico, com a economia mundial em colapso e com as corrupções e desvios de dinheiro, com os desmatamentos, com o aquecimento global, com a pandemia e com a falta de políticas assistenciais e de desenvolvimento, com os arrochos salariais e a falta de repasse e reajuste aos pisos, qual é a maior parte da população que se vê obrigada a se sujeitar em trabalhos secundários, em condições parecidas com as da escravidão ou não ter trabalho?

A reflexão sobre o Dia do Trabalho é sobre isso! Sobre que trabalho estamos falando? Em que condições, em tempo que se fala em humanização? Qual parcela da população pode realmente se orgulhar em fazer parte de uma classe trabalhadora? E quem está novamente sendo inserido nas novas tecnologias e formatos de desenvolvimento e economia?

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